quinta-feira, 4 de novembro de 2004

Porquê a Lua?

As últimas entradas no Luzeiro têm sido dedicadas à Lua.
Poder-se-á pensar que a razão foi a ocorrência do Eclipse Lunar de 28 de Outubro ou até que me encontre de novo terrívelmente apaixonado.
Claro, não se trata nada disto, embora acredite que uma boa Lua possa favorecer esse estado aluado ...

De facto, os motivos são exclusivamente pragmáticos e prendem-se com o local aonde levo a cabo as minhas observações.
Faço as minhas observações à varanda de minha casa, um quinto andar sem sotão.
E, embora viva num ambiente suburbano e ainda assim virado a Sul, a verdade é que as nossas cidades e vilas, estão cada vez mais entregues às estratégias de desperdício de energias, entre outros desmandos, a que se entregam as nossas autarquias e muitos daqueles que as suportam, entre os quais os seus eleitores se encontram em maioria.

Poucos, muitos poucos até, acho, já se terão interrogado da necessidade de tanta iluminação? E de tanta iluminação inútil?
Rotundas profusamente iluminadas onde é escasso o trânsito, holofotes a iluminarem frontarias de prédios até altas horas da noite, e de preferência com uma alternância de cores psicadelicamente pirosa e terceiro-mundista, fontes que jorram água toda a noite e são assistidas por jogos de luzes, holofotes em jardins a iluminar, de baixo para cima, as copas das árvores, holofotes, holofotes, holofotes ...
Sorte minha a de ter passado por algumas das maiores metrópoles do mundo e ter visto o efeito da poluição luminosa por serem grandes, mas não se confunda Paris com Lisboa, Nova Iorque com o Porto, Londres com a Maia, Amadora com Tóquio. E pude também visitar pequenas vilas, de dimensão amior ou igual que o Porto e Maia e Viana, não me recordo de ter visto nada do que por aqui se vê em termos de desperdício de iluminação pública (e privada).

Dir-me-ão que é para melhorar a segurança dos cidadãos, que será para incrementar o gosto estético (duvidoso) da população inominável e , no final do folêgo, acusar-me-ão ainda de muitas coisas para no fim nos relegarem para um canto minoritário.
Bom, não sei como serão os futuros 50 ou 100 anos, mas terei pena quando se chegar à constatação que a Terra, quando vista por exemplo de Vénus, se confundirá no seu brilho com a Lua.
Quando isso suceder, talvez estejamos a pouco tempo de viajarmos para o espaço exterior. Talvez ...

Bem, mas não era sobre ficções que pretendia hoje escrever.
Confrontado então com as condições oferecidas pelo local de observação habitual, não tive outra hipótese senão, e com os meios que possuo, do que me decidir por objectos celestes mais acessíveis.
Não deixa esta de ser também uma decisão, diria humana, e solar.
É verdade que o visionamento dos objectos do céu profundo, os enxames, as nebulosas, as galáxias, criam um sentimento de maravilhamento e espanto decorrente da beleza e singularidade, mas encontram-se tão afastados que só mesmo olhá-los dá prazer a um astrónomo amador comum. Algo mais do que observar, fotografar e ler o que por outros foi revelado sobre esses objectos do céu profundo não está o meu alcance imediato.

Contudo, o Sistema Solar está ao alcance dos nossos olhos, dos binóculos, do telescópio de prenda de anos, da webcam , da câmara digital e também da velha reflex do pai ou do avô.
E é possível pela proximidade dessas coisas, ainda assim espantosamente longínquas, acompanhar e perceber as fases de Vénus, a dança dos satélites e a corrida da Grande Mancha Vermelha pela superfície de Júpiter, é possível imaginar uma sonda a descer em Titã e ver que os anéis de Saturno estão separados entre si.
É possível acreditar que voltaremos a passear na Lua ... e começarmos, porque não?, a tirar medidas para reservarmos um monte selenita!

Dedico-me então à observação (caseira) do Sistema Solar e, já agora que se encontra aqui tão perto, começo pela Lua.


 
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