quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

Fire in the Sky ... no ENIA

A sessão de observação no ENIA II.
O meu LX90 continua a estar à altura das expectativas. Claro, necessita de uma
diagonal em condições e que se resolva aquele mirror shift. Já vai tardando
também uma limpeza do corrector, mas fora estes pequenos nadas continua a
dar-me momentos de fantástico maravilhamento sob os céus.
Num esfregar de olhos tinha o instrumento montado ... mas, faltavam-me as
estrelas para efectuar o alinhamento.
Tive de aguardar por uma boa aberta nas núvens para poder contar com duas
estrelas suficientemente afastadas para garantir um bom alinhamento.
Por volta da 23H15 esse momento chegou: Sirius e a Polar foram as escolhidas.
Záz, Tráz, Páz e o alinhamento tinha sido bem sucedido.
Desloquei-me primeiro a Saturno. Ver estes gigante é sempre uma grande
excitação e os seus anéis e a Divisão de Cassini estavam bem demarcados.
Mas como era minha intenção prosseguir de acordo com o plano de observação que
estabelecera apontei a Auriga.
O Cocheiro já lá ia para os lados do mar e se não me apressasse bem que me
escapavam alguns dos objectos que tinha em mente observar: M36, M37, M38 e os
Enxames abertos NGC 1778, 1931 e 1857. Tentaria também a Nebulosa de Emissão
Difusa IC410 se as condições o permitissem.
Pedi licença a Capella e cheguei a M37 seriam 23h20.
Este Enxame Aberto, que com facilidade se vislumbra com binóculos, ocupou a
ocular de 26 com um plano rico de estrelas.
É de interesse particular a estrela central no Enxame. Apareceu-me de cor
vermelho-claro e rodeada por todas as outras estrelas do objecto. Porém,
quando quis "aproximar-me" mais deixou de ser tão notória a sua presença.
Houve até momentos em que a deixei de ver. Continuei por isso a observação
com a ocular de 26mm.
Guilherme de Almeida no seu livro "Observar o Céu Profundo" afirma que "um
telescópio de 114mm revela cerca de 50 estrelas", eu não as contei porque de
certeza que elas seriam em maior número nos 203mm do meu LX90, mas outros
autores as contam por 1890!
Também nesta noite fiz o meu baptismo ao Protector de Humidade KENDRICK.
Ora aqui está um acessório fundamental para as reumáticas noites nortenhas!!
Eram um suplício algumas noites em Recarei com o Nuno Coimbra e o Pedro.
Passadas 2 horas. e às vezes menos!, e lá ficava eu a ver o corrector a
encher-se de gotículas de humidade!
Com a coleira em torno do anel do corrector do tubo óptico, o LX90 começou a mostrar-me os objectos um pouco difusos ou com um efeito semelhante à da radiação do calor nas superfícies aquecidas. Pois foi isso mesmo, estava o controlador do
Kendrick demasiado intenso ... as coisas são como são e a aprendizagem é
isso mesmo. Regulei então o controlador, quase para o mínimo, e não mais se
manifestou aquele efeito, bem como durante o resto da noite o corrector se
apresentou enxuto e transparente quando lhe apontava a lanterna de inspecção.

Como ficava perto, M36 foi entrevista às 23h35.
Mas foi uma visão de relanc, pois as núvens naquele momento interpuseram-se no
meu campo de visão e M37 deixou se ver.
Virei-me para Júpiter ... a situação era a mesma, núvens everywhere. E assim
como assim dei um passeio ao redor numa de ver quem estava e com que
instrumentos.
O Carlos Seabra montava o Merak, o Luís Carreira mostrava o Taka 60, o Grom e
o PBG montavam a instrumentação para seguiremo trânsito de Io, o Clérigo
publicitava a Sphinx e um Vixen 102 ED short Tube ( Talvez quando mudarmos de
tanga ...).
Encontrei um irmão gémeo do LX e um Obssesion impressionante.
Voltei ao meu telescópio e virei-me para Mizar.
Esta dupla física deixa-me sempre extasiado (às vezes pergunto-me quando
deixarei de me mostrar espantado com os objectos que encontro no céu.. espero
que nunca!.)
O tipo espectral desta estrela, A2, revela que a sua temperatura superficial
andará próxima dos 11000ºK. A magnitude conjunto é de 2,2 para a princiapl
enquanto que a componente terá 4.7m.
Andava eu de Merak para Dubhe quando todo o sítio fica extraordinariamente
iluminado de azul. Foi-me ainda possível vislumbrar um bólide a cruzar o céu
de Este para Norte, a perder-se sobre o mar num rastro de luz azulada!
Formidável!
Nunca me tinha sido possível ver coisa igual ... Um espectáculo que arrancou a
todos os presentes exclamações de espanto e contentamento!
Lembrei-me dos Deep Purple e do tema "Fire in the Sky" seria esse o título para
esta crónica.
Depois de refeito da experiência aproveitei a oportunidade do Luís Carreira
estar próximo e experimentei a sua Nagler Type 6 no meu LX90 e depois também
uma Nagler de 9mm. Embora só pelas primeiras impressões qualidade é
qualidade, mas pareceu-me ser demasiada amplificação para o meu LX90 ...
talvez uma Nagler de 12 ou uma Panoptic de 35mm, como recomenda o Starware para
os instrumentos de tipo igual ao meu. Alguém por aí que se ofereça para eu
testar uma ocular destas?

Finalmente, o grande objecto da noite: NGC 4565 no Obsession presente.



Um espectáculo só possível pela grande abertura, qualidade óptica e tipo destes instrumentos.
Demorei-me pouco tempo lá. Gostaria de ficar com olho grudado na ocular, mas a
fila já se prolongava até à mesa dos bolinhos e dos chás ...
NGC 4565 é uma galáxia colocada no plano celeste de Comae Berenices, a
Cabeleira de Berenice. Um formoso diadema para enfeitar qualquer cabeleira!
Posicionada a 90000 anos-luz, esta Galáxia em Espiral apresenta-se com uma
magnitude 10, o que a torna de relativa dificuldade contemplativa para pequenas
aberturas ou condições de visibilidade desaquadas. É uma das mais extensas e
também uma das que apresenta o seu plano galáctico mais favorável a
observação a partir da Terra.
No meu LX90 perdia o fulgor entrevisto no Obsession (raios, não me consigo
lembrar da abertura do instrumento!), mas estou certo que se as condições de
visibilidade fossem melhores ... fica prometida para outra altura.
Agora o céu começava, de forma consistente, a cobrir-se de núvens. O ar
cheirava a chuva. Era tempo de arrumar a traquitana no Roncinante e rumar a
Norte.

Até ao próximo ENIA !!!

domingo, 22 de fevereiro de 2004

De novo ... O ENIA II


A esta hora já muito se falou sobre o ENIA II de Mira.
Mais uma vez agradecendo e louvando os bons ofícios da organização do acontecimento, também eu venho dedicar algumas linhas àquela que, no seu segundo aniversário, é, sem dúvidas, uma starparty por que a Comunidade de Astrónomos Amadores sempre anseia.
A Quinta da Lagoa encheu-se de gente no sábado, uns para a folia do "adeus à carne" (é melhor comê-la agora, que depois pode fazer-se tarde ...) outros para festejar o fantástico céu. E talvez fossem mais estes do que aqueles, ou aqueles já estivessem na folia enquanto nós andavamos a ver estrelas.... Curioso e divertido, foi ver o pessoal, no fim do jantar, que incluiu um momento de music-hall com um trio "à maneira", pôr-se todo na alheta e deixar para trás a banda a tocar sózinha ...
A fila de carros a caminho da pista de aeromodelismo de Mira era imensa e, apesar de cedo nas horas e dia de desmando, concerteza que pareceria inusitada, até porque o local, esconso, de terra batida e sem iluminação, é muito ao gosto destes e doutros morcegos ...
Chegámos e rapidamente os periscópios surgiram a varrer a superfície celeste. Havia muitos e bons, e o equilibrio entre aberturas e razões focais, modelos e marcas, foi festejado. Podemos ver rápidos reflectores e pequenos refractores, grandes e maravilhosos pequenos e fantásticos.
A Comunidade estava bem disposta, conversadora e apostada em ganhar a noite, que, apesar das promessas do Carlos Seabra, não garantia muitas e boas abertas. O frio chegou a ser intenso, embora sem turbulência assinalável. As núvens iam e vinham com uma cadência agradável, o que nos ajudava a, quando iam, ir também até à mesa posta e superiormente gerida pela Esposa do Carlos e beber um chá quente ou um café (pena que o fogareiro demorasse tanto tempo a aquecer a chaleira ...), comer um bolinho ou um biscoito. Dar duas de treta enquanto que aquele objecto especial ou aquela ocular em avaliação, não tornasse de novo a estar sob a nossa atenção.
Claro que levei o meu LX90. Muitas eram já as saudades por uma noite de observação.

 
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