À sobremesa da Limpeza ...

Apanhei uma gripe das antigas e só agora tive ganas de cá voltar.

Entretanto apercebi-me de que dar notícia da limpeza de um telescópio e não referir o que fazer às oculares, não deixaria o assunto completo.

A verdade é que é bem mais simples limpar as oculares, se bem que ainda se deva manter o mesmo grau de atenção sobre ... o revestimento do vidro das oculares.

Assim, tendo em conta que antes usamos uma mistura líquida de água destilada, álcool isopropílico e 2 ou 3 pingas de ajax limpavidros para a limpeza do corrector do telescópio, voltamos a utilizar a mesma mistura para as oculares.
Desta vez não usaremos as bolas de algodão hidrófilo para limpar o vidro, mas simples bastões de algodão, isso mesmo, daqueles com que escarafunchamos os ouvidos ou o nariz dos nossos bébés.

De novo, antes de aplicar o líquido de limpeza, não se esqueça: use a pera de sopro e afaste eventuais micro poeiras que poderão riscar o revestimento quando sobre elas aplicar o bastonete humedecido.

Haverá que manter o mesmo cuidado na pressão sobre o vidro da ocular e proceder à secagem usando desta vez bastonetes secos, naturalmente.

Um aspecto importante: o barrilete metálico das oculares alberga as lentes das oculares, estas em muitos modelos (em todos?) estarão soltos por lá terem sido colocados pelo enroscamento da parte da ocular em que se apoiam os olhos. Importante, simplesmente importante, não desenrosque o barrilete, não mexa nas lentes. Ponto Final.

Parece simples ... e é de facto.

O Segundo Dia da Limpeza

Os coatings aplicados sobre o corrector têm uma função de protecção mecânica sobre o vidro.´
Aplicados numa fina camada estes revestimentos podem naturalmente riscar-se se forem mal tratados. Existe ainda a possibilidade de o chamado efeito de delaminação concorrer para uma degradação progressiva e devastadora sobre a sua condição.
O fenómeno de delaminação ocorre quando a adesão do revestimento ao vidro desaparece. Esta situação decorrerá, se a sua aplicação e qualidade de materiais tiver sido alcançada com sucesso, por efeito de absorção de água, criando zonas em que existe separação entre o vidro e o revestimento.
Se esta separação for progressiva o revestimento irá "descascar" do vidro com perda de protecção do mesmo.
também por isso se recomenda que após noites de observação particularmente "molhadas" o corrector não seja de imediato coberto e se deixe desaparecer a água que o revestimento absorveu.
Pela minha experiência pessoal com outros revestimentos sobre vidro, este efeito de delaminação desapareça após algumas horas a temperatura estável (23ºC +/- 5ºC).

De modo a evitar a entrada de água para o tubo óptico, coloquei-o numa posição inclinada, diria a menos de 45º.
Comecei por soprar da superfície do corrector, com uma pera de sopro, algumas partículas mais "duras".
Depois humedeci o corrector com a mistura aquosa em leves pinceladas permitidas pelas bolas de algodão.
A seguir continuei a aplicação de mais mistura de limpeza em movimentos circulares, sempre tentando medir a pressão dos meus dedos sobre o vidro.

As bolas de algodão usadas uma vez eram deitadas fora após a primeira passagem.

Finalmente sequei a superfície com mais bolas de algodão e mais cuidados de dedos.

Meus amigos, aquela transparência azulada da refracção da luz original no vidro voltou aos meus olhos!

Conclusão, a dedada da Vera Gomes continua lá ...
Descobri que o secundário possui uns pontinhos negros ... presumo que pedaços de plástico lascados da tampa da célula "made in Meade".
Esta situação motivará a tarefa mais arrojada de retirar totalmente o corrector para limpar o secundário ....

Assim como assim o assado domingueiro já fazia com que as minhas papilares batessem palmas, arrumei tudo nos seus sítios e resolvi reflectir sobre os cuidados a ter durante as observações.

O secundário pode esperar!

O Dia da Limpeza

Como andava farto de ver aquele corrector todo sujo e com uma dedada Vera Gomes, aplicada logo na segunda vez que levei o LX90 para o campo ... resolvi lavá-lo.

Comecei por procurar informar-me acerca desta operação. Normalmente abre-se um livro, desfolha-se uma webpage e se o assunto faz parte das preocupações o engenho do autor diz-nos logo para termos cuidado, por ser muito arriscado, porque são muito delicadas as superfícies do corrector, pátáti e pátátá que nos deixa sem graça nenhuma de tentar deixar o vidro ainda mais impermeável à passagem dos fotões celestes.

Alguma pesquisa nas mensagens da Astrolista a ver as excelentes indicações do Guilherme de Almeida, outra tanta no site do Weasner, ainda uma passagem pelo site do Paulo Almeida e uma pequena conversa com ele na noitada do ENIA, fizeram-me decidir que seria hoje O Dia da Limpeza.

Então, comecei por arranjar um litro de água desmineralizada, comummente conhecida por água destilada, mais um frasco de álcool isopropílico (CUIDADO! Este líquido é facilmente inflamável), uma embalagem de ajax limpa-vidros, um saco de algodão 100% hidrófilo, uma câmara fotográfica para mais tarde recordar como era o meu corrector no caso de ele se riscar ou partir, muita paciência e boa disposição, uma manhã de sábado com algum Sol.

Iniciei as minhas actividades por posicionar o teles com todo o respeito em cima da mesa da sala de jantar, tal e qual como se fosse páscoa e o compasso estivesse para se chegar às amendoas ...
Depois misturei 3 partes de água desmineralizada e uma de álcool isopropílico num vaso de vidro anteriormente bem enxaguado com parte da água desmineralizada. Finalmente, acrescentei umas pingas do ajax limpa-vidros e a mistela de limpeza estava pronta.
Fui a seguir preparando bolas grandes e pequenas de algodão hidrófilo, porque, mais vale sobrar do que escassear quando se trata de um produto de tamanha importância: afinal, estamos só a falar do material que vai passar pelo nosso precioso vidro do corrector ... corrector de um telescópio pelo qual os dealers locais pedem cerca de 500 milonas das antigas !!!