Recordo esse momento estranho de há 35 anos atrás: A Chegada do Homem à Lua.
Ainda se festejavam as vitórias do Benfica, a excelência de Eusébio, e a Selecção Nacional do Mundial de Londres 66.
A Televisão aparecia em nossas casas, mas as famílias ainda tinham outros hábitos. As crianças, a criança que eu era nessa altura, ainda não colocavam de lado o pião, e a "sameira", o "bogalho", as "cóboiadas", etc.
O Futebol, o Hóquei e o Ciclismo eram o nosso entretimento.
Só mais tarde é que se tornaram uma chatice as Peregrinações a Fátima, as declarações ao País do ditador Salazar, as "ensagens de Natal dos Soldados na Guerra do Ultramar", as sessões de fado, as touradas da RTP, o Festival da Canção, a repressão estudantil, a queda e a morte do "Botas", as "Conversas em Família" do segundo ditador Marcelo.
Olhar num televisor o Neil Armstrong a colocar o pé na Lua e a dizer aquela frase ensaiada, ver aquela imagem tecnicamente deplorável e fantasmagórica, ouvir os comentários de assombro ou dúvida aos familiares e conhecidos, e os eventualmente técnicos de Eurico da Fonseca, não me fizeram esquecer, trinta e cinco anos depois, o maravilhamento que na altura senti.
Parecia um filme, um bom filme de ficção científica.
Contudo, de novo olhando para trás e tentando, ao mesmo tempo, relembrar os 35 anos posteriores de espectaculares realizações humanas, acho agora que foi, realmente, um pequeno passo.
Como todos os pequenos passos que damos.
Cada um deles fazendo-se acompanhar de uma sensação de plenitude e abertura na espiral de um caminho que vale a pena viver.